A palavra “manso” já não é de uso frequente. Por isso, a maioria das traduções deste versículo preferem usar, em seu lugar, a palavra “humildes” (NVI, VFL, NVT, NTLH, BPT, etc.). Lutero explica esta declaração de Jesus nestes termos.
“O mundo emprega a força para possuir a Terra. Jesus ensina-nos que a Terra que vale a pena é ganha pela mansidão.” A terra prometida é, evidentemente, a pátria celestial. (cf. Sal. 37:11).
Em numerosas controvérsias relacionadas com ideias políticas, ouvi dizer que todos queremos a paz, dando por adquirido que todos somos pacíficos ou humildes, quer dizer, “mansos”. Mas quando observo o comportamento frequente daqueles que defendem essa afirmação vejo-a muito distante da realidade comprovável.
Se somos realmente “mansos”, porque nos impacientamos se o condutor que circula à nossa frente parece tardar demasiado a arrancar? Porque é que, nalgumas conversas, em vez de ouvirmos os argumentos do outro, mal deixamos que acabe de falar? Porque é que, mesmo em coisas banais, nos custa tanto dar a outra face?
Por que razão quando estamos a ver um encontro desportivo, mesmo que seja pela televisão, tendemos a denegrir ou a insultar os jogadores da outra equipa? Estamos seguros de desejarmos a paz com verdadeira mansidão?
E quando nos enfurecemos desejando que certos culpados recebam porção dupla do castigo decretado, ou que fiquem publicamente incapacitados para sempre, além de receberem a multa e o castigo que merecem?
David Bush conta que, no começo da guerra do Vietname, o pelotão norte-americano a que ele pertencia estava escondido num arrozal, quando, de repente, seis monges apareceram avançando em fila indiana, pelo carreiro que separava um bando do outro. Completamente serenos e tranquilos, os monges caminhavam em linha reta, sem se desviarem para a direita nem para a esquerda. “Foi muito estranho” – comenta o soldado-testemunha – mas ninguém lhes disparou um único tiro, porque ao ver os monges a luta terminou. Ninguém quis continuar a combater naquele dia. No grupo norte-americano nem no contrário. Todos, simplesmente, deixámos de disparar”, (adaptado de Daniel Goleman, Inteligência emocional, Barcelona, Kairós, 1996, p. 178).
O poder do valente e silencioso desfile dos monges que deixou paralisados os soldados em pleno campo de batalha ilustra as palavras de Jesus: Um dia, os mansos possuirão esta Terra que, com o derramamento de tanto sangue, alguns se empenham em possuir.
Um dos princípios fundamentais da vida social é que as emoções são contagiosas, incluindo a mansidão. Senhor, ensina-me a ser manso, como Tu (Mateus 11:29).