Os Jogos Olímpicos oferecem, cada quatro anos, a milhões de espectadores, a possibilidade de verem em direto a luta dos maiores campeões mundiais de atletismo contra os limites das suas capacidades físicas. Uns limites que todos enfrentamos também, cada dia, em muitos outros âmbitos, ao nosso nível.
A nossa comparação com esses atletas quanto à rapidez, força, resistência, precisão e destreza, confronta – queiramos ou não – a sua impressionante forma de campeões com a nossa modesta realidade. Com o nosso reumatismo, a nossa hérnia discal, a nossa flacidez ou a nossa decrepitude.
Evidentemente, é difícil ficarmos indiferentes à agilidade, à juventude, à forma e à beleza dos outros, numa sociedade que cotiza o físico como um dos seus mais altos valores. Cremes antirrugas, dietas milagrosas, ginástica personalizada, esticar a pele (liftings), cirurgia estética, depilatórios ou enxertos capilares. Tudo parece ter o mesmo lema: parecer “mais jovem, mais atraente, mais sexi”.
No supermercado sem limites das aparências – nefasta fábrica de obsessões – o corpo, torneado pelo culturismo, estimulado pela farmacopeia, retificado pela cirurgia, maquilhado pela química e explorado caprichosamente pela moda, converteu-se quase num objeto de culto.
Depois de superar o funesto erro de desprezar o corpo como inimigo pecaminoso do espírito, o nosso mundo está a cair agora no erro não menos perigoso de o idolatrar, como se fosse o nosso valor supremo.
Resultado? Por esse caminho corremos o risco constante de cairmos na armadilha da egolatria e do narcisismo, sacralizando o nosso corpo ou profanando-o. Porque o corpo, esse mecanismo tão frágil como maravilhoso, de cuja manutenção somos responsáveis, é também, não nos esqueçamos, templo do Espírito (I Cor. 6:19).
Quem reconhece a vida como um dom de valor infinito, ao mesmo tempo sumamente vulnerável, não pode deixar de se esforçar em potenciar a sua saúde e a dos outros, como fazia Jesus. Mas isso nunca O fez esquecer a realidade daqueles cuja situação está muito longe deste ideal. Para Ele, todo o corpo, por doente, deformado ou aleijado que se encontre, conserva inalterável a dignidade da sua origem, criado “à imagem de Deus” (Gén. 1:27).
Senhor, ensina-me a cuidar devidamente do meu corpo, até ao dia em que me devolvas definitivamente a forma que querias para mim.