Temos muitas evidências de que alguns doentes de difícil diagnóstico estão a ser perturbados por poderes maléficos. Não nos estranha que o diabo se considere, de algum modo, dono deste mundo (Mateus 4:9). Precisamente por isso, já na Sua intervenção prévia na sinagoga de Nazaré, Jesus apresenta o Seu ministério como um projeto de resgate: quer libertar-nos do poder das forças do mal. A Sua pregação é uma proclamação alegre de que a vitória do bem já está em marcha, um anúncio público de que o projeto divino de salvação começou a tornar-se realidade (Lucas 4:18 e 19).
Para demonstrar que a reconstrução do reino de Deus não é o desejo piedoso de um visionário, na sinagoga de Cafarnaum Jesus passa do anúncio ao ato. Porque, n’Ele, a palavra e o ato vão juntos. Ali mesmo, no lugar onde se invoca Deus, encontra-se um endemoninhado. O evangelista diz que tinha um “espírito impuro” (Marcos 1:23). Até que ponto o seu estado era fruto de um poder sobrenatural ou consequência dos seus próprios desvarios, não podemos saber. As duas coisas vão juntas tantas vezes!
Muitos não prestam atenção a estes relatos dos Evangelhos por os considerarem portadores de superstições populares desfasadas. Mas Jesus leva sempre a sério a realidade do sofrimento, até mesmo daqueles que sofrem, ou creem sofrer, de alguma forma de “possessão”, seja de que tipo for. Jesus deixa bem claro que, sejam quais forem as causas das nossas perturbações, físicas, mentais ou espirituais, e a fonte dos poderes que nos dominam, Deus é mais forte. E quer libertar-nos de qualquer opressão ou possessão, quer destrua o nosso corpo, transtorne a nossa mente ou atormente o nosso espírito.
Como no caso do possesso de Cafarnaum, Jesus continua hoje a querer dobrar as forças que parecem dominar-nos, silenciar as vozes interiores que nos torturam ou nos desequilibram, e devolver-nos o equilíbrio, a saúde e a paz. E deseja fazê-lo sem que soframos na terapia qualquer “mal” (Lucas 4:35).
Livra-me, Senhor, de influências maléficas, e torna-me solidário com aqueles que lutam nas sombras contra males que escapam aos nossos diagnósticos.